VELHA NOVA
CAMALEOA
CARACOL
PINTA DE MENINA
Olhos com moldura acrílica primeiro e, depois, aros naturais formados pela sombra de um olhar cansado, chamados de olheiras. Com a retirada dos óculos, as feições pareciam mais livres, embora expostas à constatação do cansaço nelas retratado.
CONVENÇÃO
FAXINA
COLÍRIO
é raio X do meu sonho.
O que sonho
foge ao foco da visão.
Da janela do olho,
minh 'alma mira sem ser mirada
e é morada de um filtro adormecido.
Cores demais embaçam a vista.
Preciso do breu esclarecedor,
da luz que enxergo
com vendas nos glóbulos oculares
e lentes nos glóbulos do sangue.
O que vejo
me alveja.
O que pulso
me impulsiona.
Veja que lindo o vulto negro dos meus pensamentos silenciosos!
Ouça meu tato, toque a moldura dos meus óculos,
e deixe que, de olhar cerrado, eu crie sua imagem.
HIPÉRBOLE
SALDO
MUDANÇA DE TEMPO
A virada do clima pedia acompanhamento. Foi, então, à cozinha pegar uma tacinha de vinho. - Bebendo de novo, senhor Olívio?- Encheu um copo maior que a taça e virou as costas para quem lhe fazia a pergunta porque não gostava de ouvir os resmungos, ou talvez sequer os tivesse escutado.
Sentou-se, de novo, à varanda e lá veio lhe atormentar a mesma nuvem. -Aí vem pé d'água! - comentou como quem acaba de fazer uma descoberta, esperando continuação para a conversa. Havia alguém a lhe fazer companhia, além do céu nebuloso. Mas, essa pessoa preferia ficar em silêncio e olhava em direção à rua com ar desinteressado. Afinal, quem é você menina?- perguntou.
- Sou a Maria. O senhor não lembra?- Ele mudou de expressão e o nascer de um sorriso abriu-lhe o azul da face. - Mas, como você cresceu! Esse tempo voa mesmo. Ontem era um toquinho, e agora é uma mulher...
A nuvem escura continuou a fazer sombra na terra. - Será que vai chover, vô?- O velho franziu o cenho, entortou a boca, bebeu o resto de vinho tinto no copo de vidro que segurava e falou. - Mas, quem é você, hein? Onde é que tá a Laura? Aquela mulher dá chance pro azar...
Parou o discurso pela metade interrompido mais uma vez pelo anúncio de chuva que o distraía, como o mais importante dos acontecimentos. - Vai pra dentro que vai chover!- disse de repente para Maria.
Mas, por que tinha a impressão de estar repetindo aquilo? Por que cargas d'água o entorno, assim como ele, tinha de se tornar velho, desbotado e empoeirado?- Inquiriu assim o tempo, pedindo a indicação de um sentido para tudo. E fez isso, não por se incomodar com as rugas, os cabelos brancos ou a dificuldade para andar, mas porque se via agora incapaz de enxergar qualquer coisa nova.
- Está tudo bem, vô?- Quem perguntava trazia na blusa uma flor feita de miçangas e plantada com ramos de linha. - Mas, que coisa bonita essa...- A menina sorriu com o elogio, não por vaidade, mas por notar que Olívio ainda se admirava com os detalhes simples e belos da vida.
- Vai cair um toró e a dona Laura sumiu. Entra em casa e procura por ela, menina. Se aquela velha tiver na rua quando o temporal começar, vai ficar doente.- A jovem não se surpreendeu com a ordem do avô, que terminou de falar e cheirou o vinho a transbordar-lhe o copo. Quando deu o primeiro gole, já se sentiu enjoado. O horizonte mudou de cor e o vento soprou com força. Faria tempestade de novo- pensou- e, de velho, percebeu que a tormenta era só de passagem.
- Vamo entrar, vô! Agora vem chuva mesmo-. Enquanto a garota recolhia as cadeiras do alpendre de onde se via o jardim, Olívio quis sentir por alguns instantes o ar se mover com violência contra os ossos, fazendo inflar sua camisa amassada. Foi quando olhou para as folhas se balançando no canteiro e notou que as margaridas tinham secado.
- A Laura morreu? - indagou como se acordasse de um sonho. Só lhe respondeu a nuvem escura e carregada, que ainda se arrastava pelo céu armado.
ESPELHO DA BARRA
que não a do ponteiro que tudo pontua.
Mas, de pontes que me levem a barras
de onde eu possa me ver sem barragens.
Já não quero metaforizar o entorno
que se entorna sobre mim como lama.
Todas as palavras de todo o mundo hoje estão sem significado.
Eu que tanto fiz e faço uso das letras,
Agora me sinto por elas usada.
Não posso expressar o que me ultrapassa.
Meu espelho é sem moldura e sou moldada.
Mas, não sinto ser eu no reflexo,
Sou refletida por olhos estelares que me cercam.
Não existo, embora viva todo o tempo.
Conto com tabuada o dia em que me reconheci.
E devo ser mesmo só parte de uma conta.
Quis fugir para dentro de um conto,
Mas em ilusão real já me encontrava.
Com vocábulos sem sentido,
Hoje desejo não ter fala:
O deserto oasístico da dor,
O silêncio do olhar cúmplice,
O riso verdadeiro e sem som.
Preciso escrever com as marcas de expressão de um velho,
e combinar gestos dos outros para relatar pensamentos que calo.
Porque perdi a fala, ou nela me perdi.
Encontrei sol na solidão e para o que era morri.
Ainda há vida sob frases e vidros espelhados.
BRINCANDO DE COLORIR
O terceiro integrante era o mais bonito, todo lilás. Aquela cor tinha a capacidade de transformar as demais num lindo arco-íris, embora ela própria tivesse que se retirar dele depois, por não pertencer à composição da aquarela natural. Mas, por mais que sua existência viesse da junção do vermelho e do azul, com pitadas de branco, ela tinha personalidade.
Não bastasse sua intrínseca beleza, essa peça do kit tinha sido apontada de modo diferente, como se a lâmina que buscava trazer o grafite à vista, na hora de retirar lascas da madeira, tivesse atuado com a delicadeza de quem trabalha para fazer uma escultura. O quarto integrante, por sua vez, era pequenino, embora não parecesse gasto. Em sua superfície, nenhum arranhão, apenas a cor amarelo ouro, reluzente como a do sol que acaba de nascer.
O próximo integrante, o verde, um pouco mais alto, trazia a ponta quebrada e parecia triste por isso, como se a falta de algo no topo da cabeça fosse motivo para gozações por parte dos outros do grupo. Por fim, via-se ali o branco. Tão pequeno quanto o amarelo, ele, porém, fazia jus à comum relação que se estabelece entre o tamanho do lápis e seu tempo de uso.
Pode ser que sua expressão de velhice e exaustão viesse das marcas grosseiras de golpes feitos a estilete que ele trazia próximas à ponta. Por que não usaram o apontador?- ele se perguntaria, caso escondesse sentimentos sob sua cor pacífica e aparentemente vazia, ainda que capaz de guardar em si os espectros de cada uma das cores primárias. Há crianças que fazem lápis-de-cor de pessoas, criando historinhas para serem interpretadas pelos objetos pontudos de madeira. O tempo passa e, de repente, elas se veem brincando só com uma cor.
OVERDOSE
Fome de açúcar
Sede de amor
Ânsia por sol
Tem falta de mar no metrô,
Nadam no ar sem O2.
Falta aqui o que sobra em algum lugar.
Há sóbrios abstinentes na corrente de dor.
Medo da satisfação.
Saudade do que não foi.
Porre de ilusão.
Ilustres porradas ilustram com borrões
a realidade.
Busca por paz?
Pasmaceira
Enjoo do mal?
Cegueira
Sofrer cortes fora da pele.
Depenar flores que voam
e achar no miolo o pólen vazio,
enquanto as asas já se foram.
Fome de ácido
Sede de terror
Ânsia por chuva
Falta métrica no mar,
Oxigenam o nado sem ar.
Sobra aqui o que falta em algum lugar.
De igual só os sóbrios abstinentes,
agarrados à mesma corrente.
O HOMEM DA REPRESA
ABRAÇO MONÓLOGO
até falar línguas que não conheço
e conhecer as próprias falas em outras línguas.
Minhas cordas vocais, Alice ou não,
passaram a tocar nova canção.
Palavras sem som agora ecoam em mim
e fazem assim que eu me sinta parte
de um canto à parte.
Talvez menos mudo, mais mundo,
cheio de gestos e bocas que falam
para que ouça minha alma prensada.
Expansão, expressão,
realidade artística, arte realizada,
flores em rostos,
beleza simples e inspirada.
Com risos e contos da vida
descobri um dialeto.
Nele, dias e afeto
me afetam a caminhada.
Novo código de comunicação,
comum ação com regras
para a descoberta do todo desregrado.
Miro a fresta da cortina
que separa fantasia da verdade
E finjo saber o que sinto por pura vaidade.
MICHÊ
E havia tantos outros ali...
esperando cédulas cairem em suas cuecas.
Eu sou como eles, em plena segunda-feira.
Aguardo os mais caros trocados da vida,
e que me troquem de lugar.
Desejo que me queiram e queiram tocar.
Talvez seja gananciosa, pense como quiser.
Apenas veja-me de um modo, para assim me ter.
Por querer, quero tudo e não sei o que quero.
Só sei que da vida e da morte algo nobre espero.
Fora da nobreza, da grande realeza:
Níqueis feitos do aro do círculo que forma a metade de um mundo cortado.
Apertem meu pescoço, mas mantenham-me em gozo.
Sem a cabeça de baixo, ao sabor do ar, em pouso.
Preciso de um troco
para o balanço que faço,
sem jeito e nada sexy,
do mal estar que disfarço.
ARTE REPRIMIDA
ANACRÔNICA
AGRADO
Às vezes, um gracejo produz vazio,
enquanto a desgraça, com seu desvario,
pode fazer do outro dia ação de graças.
TARÔ
Tenho feridas fechadas,
Dores que degusto,
e desgostos que adoro.
Deve ser culpa do câncer,
Estranha doença que dentro corrói.
Fora me dói,
E do zodíaco afrodisíaco me escorre por veias.
Tenho luas abertas,
Signos sem ascendentes,
Ascensões insignificantes...
Vendedor ambulante
Das bulas que não sei ler.
Antes madame me dissesse
Se adianta alguma prece.
Ou o fim é uma benece,
Que eu cavo em sulcos na palma.
Tenho portas semicerradas
Chaves perdidas
Perdas chaviadas,
Atrás, medo latente e uma alma embrulhada.
Piso búzios entre cascalhos,
e sou todo embaralhado.
Leia-me e eu te devoro.
TPM
ESPONJA
BRINCADEIRA DE LEI
PANCADA
VÔO
Até a ladeira tem dois lados,
o de escorrer ou no topo ficar.
Por que então me exigem tomada de partido
como se a vida fosse uma partida em tabuleiro quadriculado?
Até podemos ter jogadas preprogramadas,
mas jamais vencemos em absoluto o medo.
O maior concorrente que temos somos nós
enozados na teia inescapável da finitude
e da pequenez frente à magnitude
do universo.
Por que então me exigem buscar resposta pra tudo
e escolher uma direção a percorrer como escudo?
Vejo-me por várias trilhas,
sou capaz de correr milhas
sem achar que perdi minha incapacidade.
Porque não importa em que parte do mundo
ou do assunto eu esteja,
Manterei a fé ou o fim que me alveja.
Passe da lua ao sol,
não mudará o que o prende como anzol.
O ser vão da vivência
ou ser vir à existência.
Nem cá nem lá,
prefiro ser só vão
por onde me vão antigas ideias,
e não vou, mas vão me completar.
Perguntam-me se não acho o espaço entre lados vazio
e não quero agarrar-me ao fio de uma crença,
mas sinto mais paz atrás da iluminação obscura
garimpando fios de sol que atravessam os sentidos.
Foi-se tempo em que pelo vão só eu ía.
Agora por ele outros vãos vão também.
Espero a revolução feita de generosos espaços
onde a união seja a soma dos vazios.
Na matemática inexata da eternidade,
menos mais menos dá mais.
Sou cheia de mases e mais
e me preenche o que falta alcançar.
Resta-me o receio de que pelo vão
nada pare e a construção só resvale.
Pois o maior desafio de não estar preso a nada
é prender o real que tanto quer vazar.
SAVANA SOCIAL
Não sei um só canto, não caibo num só conto.
Sou feita das contas do cálculo do acaso e daquelas
que formam o terço da fé num altar.
E vivo no canteiro onde nasci plantada,
mas vejo, do rio, na outra margem,
de mim diferentes folhagens.
E sou incontida com tão belas imagens.
Porque não contenho tudo o que me forma.
Ao meu redor só há pé como os meus.
E quanto mais nos esprememos no mesmo cercado,
menos passos encontramos para outro caminhar.
É estranho como a cada fala sobre o que sou,
menos me sinto parte de qual parte seja.
Preciso que alguém me veja,
e sou só uma folha que pouco verdeja,
em meio a tão grande e imponente plantação.
Então de repente
quis ser do entorno diferente.
Fotossintetizei as cores diversas da vazante do rio
e verti todo o carbono que dividia o ar
em suave brisa que me levou o espirito junto de outras terras.
À margem, pulei do rio as águas,
molhei-me de corajosa humildade
até me expor à luz de astros além do sol.
Tempos depois interiorizado o intercâmbio,
Fiz florescer todo o aprendizado,
e dei à vida o fruto da minha consciência.
E ela cresceu e, de tão espandida, rompeu,
deixando-se repartir em sementes leves
e capazes de voar com o vento da esperança.
até a mais distante instância
onde houvesse um coração fértil.
A estufa do estável me sufoca
e o adubo da dúvida me alimenta
porque, parte da natureza,
temos como ela preciosa imprecisão.
A busca sem freio por certeza faz parar a evolução.
O aumento do cultivo não significa mais produção.
O verdadeiro semear é o desinteresse
regado em doação que fizesse...
tudo de um ser pouco
e o pouco de todos ser tudo.
Abrindo-se, aos poucos, espaço
para a verdade destinada aos que amam.
PODER
A morte de um nada é
quando a vida do outro é soterrada.
Vidas sob escombros desaparecem
sem se perder da minha mirada.
Toda ideia que tenho sofre ao não encontrar guarita
e tenho vergonha de ser humana,
se é acabado um conceito de humanidade.
Olha-se o outro com desprezo por não se enxergar
que toda vista é um reflexo, ainda que não reflexão.
O homem não é sociável, embora social.
Reúne-se para somar forças por desejo que é só seu.
Assim, de um mesmo grupo, sai tanta discordância.
O ser perde o elo com o mundo quando vive intolerância.
O poder anda com o dinheiro,
O querer não encontra riqueza que lhe baste.
Se alguém pode uma coisa, logo pensa que é pouca.
A vida é foda,
prazer e dor misturados,
excretas e energias de todo lado...
É o amar só depois de arrasado,
o valor sobre o já gasto,
e o eterno querer que nada pode.
AMAR É
Olho a praia e não sei decifrar
Onde termina o céu, onde começa o mar.
A linha no horizonte indecisa
não sabe se divide o ar ou desliza
até a visão de quem se sente um pouco infinito...
Como a linha infinita no azul,
não sei se sou norte ou sul.
Meu peito quer alto alcançar,
minha pele ondula ao luar.
Mas, a mente, essa traz a reta do olhar,
tortuosa, perdida,
silhueta escondida em nuvens,
ela plaina cadente e incandecente,
cortando qualquer brisa.
Os novelos brancos do céu invejam do oceano o balanço
e se vertem em espuma.
Uma estrela do mar cansa do agito em maré
e pula, de repente, ao devaneio, noturna.
Sou maresia, sopro de luz e dia
quando me deixo atravessar
pela preciosidade imprecisa.
Quero navegar e parar também celeste,
ser rosa dos ventos e ventar...
E a natureza inconstância me empreste!
Porque me sinto viva se me bate essa imagem
que o horizonte origina sem pedir passagem.
CONSELHO DE INSEGURANÇA
Sou conselheira primeira dos erros que cometo.
Não sou palestina, tampouco judia...
Apenas judia-me a ideia de ver tanto tormento.
A Organização das Noções Urgentes que trago na mente,
faz-me sem validade.
É ônus da benevolência humilde essa outra ONU apresentada,
unificada em nada, universal em fachada...
Somos mesmo menores em relação ao que criamos.
Meu Produto Interno é bruto porque ainda não se entregou ao ourives externo.
Fecham-se contas enquanto me fecho, conta,
pregada no tecido dos contos contentes que inventei.
Zonzos, de tanto olhar pro sol do umbigo,
agredecemos aos cientístas por nos dizerem o quanto somos insignificantes.
Cremos tanto nisso, que agora nos bombamos, com foguetes e anabolizantes,
E transpassando balas na carne e em mentes fugindo de fatos,
até que chegue a morte.
Pegue a última pedra e fume ou jogue no inimigo mais próximo...
Antes do apocalipse, já se forma o eclipse que nos faz deixar de ver a lua.
Saio, então, pra rua,
peço, parem,
Digo, sou nada e sou mais,
poderia ser eu a estar morrendo,
que diferença isso faz...
Ou, Deus planejou que estaria ilesa, sofrendo de tiros invisíveis?
Mirou um pouco pra cá, ao invés de me pôr em meio a qualquer conflito...
Me ama esse senhor e sou grata por viver colocada num campo de concentração sem fim.
Com centro em nada,
Concentro ação em tudo,
Pouca coisa mudo,
Mas vivo uma eternidade concentrada.
Que mistério cria o sofrer por outro,
E ao mesmo tempo o encontro sem propósito e palavras?
Que lição há contida na constante lida entre a felicidade interna bruta,
e as relações diplomáticas?
Onde vizinhos são estrangeiros,
mendigos são alienígenas,
Diferenças são afrontas,
Pode-se ser o mundo,
mesmo isolado e recluso em casa.
A TV e a NET dão ordem à humanidade,
e a ONU é parte do espetáculo humano de quem
brinca de Deus, destrundo homens e criando divindades.
Com a palavra, o poderoso:
- No cômodo apertado da Terra,
Por comodismo, não quis ouvir quem divergisse.
E, com a vassoura em punho, apunhalei mil seres
inferiores que me impediam de alcançar desejos.
Sou rodeado de baratas humanas, e o barato humano
agora é detestar detetizando.
É cara a firmeza, embora seja para a promoção da segurança do mundo.
Sou seguro ao não querer sofrer a ameaça de qualquer mudança em tudo.
Com o zumbido, o inferior:
- Eu sou uma vida barata,
Minha mão calejada vale alguns centavos.
Meu sangue pode cair por terra, se não caírem as bolsas.
Minha família é morta, ou morre se nada come.
Enquanto, estranho e aceito,
o fato de que o alimento do mundo é o chumbo!
Ando chumbado, detonado, e arrasado...
perdi as orelhas que ouviam insultos.
Mas, mantive a boca pra maldizer o malfeitor.
E me deito muito antes de relaxar a dor.
Por que agora já não dou a outra face.
Cresci e me alimentei de todo o ódio imaginável.
Virei gigante em espírito histórico,
sem pele e de ossos perdidos em solo arenoso.
O alimento que me resta é também chumbo!
- De canhões e dólares sobrevive a vingança das baratas...