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MICHÊ

Tinha um garoto na minha rua.
E havia tantos outros ali...
esperando cédulas cairem em suas cuecas.

Eu sou como eles, em plena segunda-feira.
Aguardo os mais caros trocados da vida,
e que me troquem de lugar.
Desejo que me queiram e queiram tocar.

Talvez seja gananciosa, pense como quiser.
Apenas veja-me de um modo, para assim me ter.

Por querer, quero tudo e não sei o que quero.
Só sei que da vida e da morte algo nobre espero.

Fora da nobreza, da grande realeza:
Níqueis feitos do aro do círculo que forma a metade de um mundo cortado.

Apertem meu pescoço, mas mantenham-me em gozo.
Sem a cabeça de baixo, ao sabor do ar, em pouso.

Preciso de um troco
para o balanço que faço,

sem jeito e nada sexy,
do mal estar que disfarço.


2 comentários:

Thais Iervolino disse...

Hummm... boa história... fiz uma versão mais narrativa dela p/ vc... veja:

MICHÊ, TALVEZ...

Eu era mais um naquela rua. Mais um entre tantos outros ali. Em busca de mais um dia de trabalho. À espera de cédulas e mais cédulas, como os tantos outros dali.
Segunda-feira. Não é um dia propício para o meu trabalho. Não, não é. Mas sigo naquela rua aguardando os mais caros trocados da vida. Não só isso: aguardando uma mudança. Uma mudança de rumo, de mundo, de sonhos, de vida.
Muitos talvez não entendam a vida desses meninos como eu. E não é preciso: apenas veja-me de um ponto de vista, pense como queira. Afinal, de minha parte, não farei o contrário sobre as pessoas como você, que cruzam meu caminho para uma troca. Ganância? Talvez não, apenas uma troca. Toque, sentidos, desejos. Uma troca num curto espaço de tempo.
Essa é e não é minha vida. Por querer, quero tudo e não sei o que quero. Por fazer, sigo nesta rua entre tantos outros ali. Só sei que da vida e da morte algo nobre espero. E o que não é nobre nesta vida insana entre meninos, homens, carros e trocas?
Bom, sigo nesta rua, neste trabalho. Aproximam-se os homens, os carros. Toques, apertos e gozos. Tudo acontece numa ampla, fugaz e rápida sinergia. Até aparecerem os níqueis, as cédulas. Sim. O objeto que a nobreza tanto buscou nestes últimos séculos.
E assim continuo eu naquela rua, num dia não tão propício, entre tantos outros ali. Sem jeito e nada sexy, do mal estar que disfarço em busca de uma mudança de rumo, de mundo, de sonhos, de vida.

Fabíola Bió disse...

curti! :)