O terceiro integrante era o mais bonito, todo lilás. Aquela cor tinha a capacidade de transformar as demais num lindo arco-íris, embora ela própria tivesse que se retirar dele depois, por não pertencer à composição da aquarela natural. Mas, por mais que sua existência viesse da junção do vermelho e do azul, com pitadas de branco, ela tinha personalidade.
Não bastasse sua intrínseca beleza, essa peça do kit tinha sido apontada de modo diferente, como se a lâmina que buscava trazer o grafite à vista, na hora de retirar lascas da madeira, tivesse atuado com a delicadeza de quem trabalha para fazer uma escultura. O quarto integrante, por sua vez, era pequenino, embora não parecesse gasto. Em sua superfície, nenhum arranhão, apenas a cor amarelo ouro, reluzente como a do sol que acaba de nascer.
O próximo integrante, o verde, um pouco mais alto, trazia a ponta quebrada e parecia triste por isso, como se a falta de algo no topo da cabeça fosse motivo para gozações por parte dos outros do grupo. Por fim, via-se ali o branco. Tão pequeno quanto o amarelo, ele, porém, fazia jus à comum relação que se estabelece entre o tamanho do lápis e seu tempo de uso.
Pode ser que sua expressão de velhice e exaustão viesse das marcas grosseiras de golpes feitos a estilete que ele trazia próximas à ponta. Por que não usaram o apontador?- ele se perguntaria, caso escondesse sentimentos sob sua cor pacífica e aparentemente vazia, ainda que capaz de guardar em si os espectros de cada uma das cores primárias. Há crianças que fazem lápis-de-cor de pessoas, criando historinhas para serem interpretadas pelos objetos pontudos de madeira. O tempo passa e, de repente, elas se veem brincando só com uma cor.
1 comentários:
uau..
que lindo!
sempre pirei nos lapis de cor tbm..rs
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