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SAVANA SOCIAL


Não sei um só canto, não caibo num só conto.
Sou feita das contas do cálculo do acaso e daquelas
que formam o terço da fé num altar.

E vivo no canteiro onde nasci plantada,
mas vejo, do rio, na outra margem,
de mim diferentes folhagens.
E sou incontida com tão belas imagens.

Porque não contenho tudo o que me forma.

Ao meu redor só há pé como os meus.
E quanto mais nos esprememos no mesmo cercado,
menos passos encontramos para outro caminhar.

É estranho como a cada fala sobre o que sou,
menos me sinto parte de qual parte seja.
Preciso que alguém me veja,
e sou só uma folha que pouco verdeja,
em meio a tão grande e imponente plantação.

Então de repente
quis ser do entorno diferente.
Fotossintetizei as cores diversas da vazante do rio
e verti todo o carbono que dividia o ar
em suave brisa que me levou o espirito junto de outras terras.

À margem, pulei do rio as águas,
molhei-me de corajosa humildade
até me expor à luz de astros além do sol.

Tempos depois interiorizado o intercâmbio,
Fiz florescer todo o aprendizado,
e dei à vida o fruto da minha consciência.

E ela cresceu e, de tão espandida, rompeu,
deixando-se repartir em sementes leves
e capazes de voar com o vento da esperança.
até a mais distante instância
onde houvesse um coração fértil.

A estufa do estável me sufoca
e o adubo da dúvida me alimenta
porque, parte da natureza,
temos como ela preciosa imprecisão.

A busca sem freio por certeza faz parar a evolução.
O aumento do cultivo não significa mais produção.
O verdadeiro semear é o desinteresse
regado em doação que fizesse...

tudo de um ser pouco
e o pouco de todos ser tudo.

Abrindo-se, aos poucos, espaço
para a verdade destinada aos que amam.

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