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PASSAGEM

Falta-me a serenidade idosa dos que sabem
se acomodar sobre sofás pacientemente macios,
Sobra-me o egoísmo infante da busca
por conhecer o não sabido.

Embora o que se tenha como certo,
pode ser que certamente seja o nada.

O tempo é a despersonificação da minha ignorância
e, a cada dia, em qualquer respingo último de
sol absorvido pelo lenço úmido do ceu,
leva-me um pouco mais para perto do lado atrás
de onde dorme a noite.

Preciso de um descampado de ideias
onde possa gozar a visão dos dias se apagando,
à medida que surjam as estrelas.

Mas, sou um pouco firmamento, quando,
enigma, animo-me a tentar guardar os raios do que vejo
sob as nuvens dos meus abraços.

Tudo em vão.
Cabides descabidos mantêm memórias desamassadas,
enquanto o vazio infinito das horas preenche
cada poro alienado do corpo
com o sentido de urgência.

Sou a personificação do tempo
em tudo o que ele tem de escasso,
mas não tenho aurora nem crepúsculo,
apenas passo e me desfaço.