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ANIMALESCA

Trago um elefante sobre as costas,
um gato arranha-me as cordas vocais,
e tenho a falta de homotermia de um sapo...

Toda a fauna que hoje me habita
não dá sinais de partida,
antes, fazem-me, na ída,
com coração galopante
e o descontentamento feroz.

"Somos todos bichos", certa vez ouvi e não vi por onde tal afirmação me incomodava.
Acho que meu auto-conhecimento primata pôs-se em posição de caçada,
já sem ter posição alguma.

Vegetar é sinônimo de ausência de vida porque a grama não raciocina.
Mas, o orvalho sem chuva pode ser da planta o pranto.

Trituro a carne com meus caninos,
rasgo as folhas entre dentes,
e sou selvagem vagem pros grãos duros dos conflitos entalados na minha garganta.

Sou bicho enjaulado nas grades dos meus instintos.

A violência é uma onça acuada,
que açoita a vivência,
e a vivência açoita.

Por que se gosta do gosto de sangue?
Há gosto no gozo,
e agoniza a agonia.

Mas, não morre a infeliz
porque o feliz passa logo,
como bate a asa o beija-flor.

Trancafiei mil canários para que não me fugisse o cantar.
E, na tranca, fiei essa mordaça que envolve a auto-defesa.

Cão de guarda, morro de raiva,
quando deixo entrar em mim essa falta de sentido.

2 comentários:

Lininha* disse...

Instintivo e ferozmente puro!

asdfg disse...

esta muito bonito !!!!
ta nos favoritos, vou ver semrpe