Como a lua que se deixa espiar sob um véu de nuvens,
a verdade se esconde, querendo ser achada, numa névoa de pensamentos.
Cada gesto e letra que ofereço sobre o mundo
é, de fato, artefato que faço acerca de mim.
Escrevo por não ter certeza.
Acerto quando sou a mira.
E escorro, escrita na arte que crio
a cada mirada pela janela que trago no peito.
Por que as pessoas se esquecem?
Vivem se olhando no espelho e não decoram
nada do que decoram
para disfarçar o que é imperfeito.
Quisera eu poder levar emoldurado o rio onde me vejo refletida.
Na água, pude enxergar me olhando, molhada, e de vista cerrada.
Mas, sei que não é preciso aprisionar a natureza
feita para ser corrente e não, acorrentada.
Basta recordar que ela é de tudo morada.
Sabendo isso, que só sei de mim,
mas soube de anjos e poetas,
passei a me ver numa folha brilhante de planta,
na gota da chuva, em lágrima de gente, no vidro de um prédio,
e até na íris de quem comigo conversou sem palavra.
Escrevo e falo de mim por não saber nada.
E me embaraço por não poder assumir essa impotência
ao retratar o que miro com vista embaçada.
Por que as pessoas esquecem que tudo o que são parte de nada?
Desde sempre, sou solidária ao sólido ato de expor-se em feridas e fraquezas,
mas dentro de um mundo líquido e duro, também criei minhas fortalezas.
Meus textos publicados como fato,
são montes de artigo indefinido.
Eu me defino como um ato momentâneo e não factual.
O que ora rascunho pra me desenhar
foi anotado com a lama do fundo de um rio.
Não demora, essa tinta de leito estará seca pelo vento
que leva a neblina a ocultar a lua.
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