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DESENCONTRO

Tive um encontro que para minha companhia deve ter sido programa de índio.
Programa de índio, no sentido que lhe atribui o consenso geral.
Para mim, foi programa de rico, daquelas reuniões em que se pede licença para sorrir e também se sentar.

Sair com um índio deve ser interessante...imagino um cenário de música, fogueira, noite ao ar livre, corpos nus, bebida farta e liberdade...
Mas, sou uma pessoa distante da ingenuidade nativa do homem.

Sou pudibunda (descobri essa palavra ontem, em conversa com colegas de trabalho que riam do som estranho que tem esse símbolo pouco usado para indicar o ser detentor de pureza).
É mesmo uma bunda ser assim pudica e vestida em preconceitos contra mim mesma.

Quisera poder rir e chorar frente a qualquer pessoa que me está próxima.
Mas, parece que é até pecado ser eu, enquanto ainda não bebi alguns goles de qualquer coisa alcóolica.

Minha insegurança só não é maior que meu orgulho. Não dou brecha para o mínimo toque, mas fico brochada se não me tentam tocar.

O próximo encontro romântico terei com Vinícius de Moraes.
É mais fácil e indolor a paixão por alguém preso na eternidade da morte e da arte deixada.

Um amigo me disse que leu Vinícius e se apaixonou pela pomba que, por coincidência, passou naquele instante, em vôo calmo pela janela.

Até agora só percebi próximo à minha sacada o cantar de pneumáticos.
Fecho, então, a janela para não correr o risco de ouvir o mínimo ruído de asas.

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