Tenho medo da chuva,
não pela fúria do seu trovão,
mas pelo clarão dos raios.
Não me assusta o pranto em forma de enxurrada,
tampouco fujo do vento que faz a ideia embaraçada.
Temo sim o fato de água ser límpida e passageira.
Gotas passam por mim e logo secam ao sol que vem.
Mas, sigo molhada sem ter lavada a parte que não convém.
Queria ver cada jato penetrar fundo a pele,
fazendo a varredura de tudo o que dentro fosse folha seca.
Peço para o choro do céu umidecer o peito,
mas ele só salga a face antes de morrer no leito.
Bom seria a chuva não soubesse somente chorar e fazer chorar.
Bom será quando a fé, essa sim, quiser me aguar.
Pois, sentimento é raiz,
mas sofrimento é terra
que se pode remover e arar.
Desilusão é tão natural quanto cheia no rio.
E não criei ainda canais para conter futuras mágoas.
Resta então o eterno magoar-se em águas,
sem, porém, deixar-se afogar.
Toda terra é cultivada
e a natureza, renovada.