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IDEALISMO

As mulheres ideais são feitas da leveza de nuvens distantes da terra. Eu sou pesada porque feita de carne, crises e desejos.

As mulheres ideais estão acima de qualquer dificuldade. Eu subo e desço degraus o tempo todo, mas acabo sempre no patamar da angústia.

As mulheres ideais têm, na aparência, luz e serenidade. Eu tenho pêlos se não depilo, TPM pré e pós a M, bafo quando acordo, preguiça de me vestir e constantes ressacas.

As mulheres ideais representam maturidade e constância. Eu represento um grande conjunto de sensações bipolares, dúvidas, choros incontidos, vontades de ser abraçada e pedidos de ajuda prática aos planos mirabolantes, que não sei como executar.

As mulheres ideais mantêm o controle em qualquer situação. Meu colo e meu ombro são maiores que minha capacidade para dar conselhos.

As mulheres ideais não discutem sua relação amorosa. Eu discuto até minhas relações com as plantas.

As mulheres ideais são auto-confiantes. Eu sou carente, insegura, medrosa e indecisa.

As mulheres ideais têm amor a dar na medida. Eu sou o exagero afetivo em pessoa.

Sem dúvida, é mais tranqüilo conviver com a mulher ideal. Não seria fácil a vida ao meu lado, como não é fácil a comunhão com qualquer pessoa de ossos, músculos, espírito e idéias.

A mulher ideal não tem ideal, é uma idéia.

Nem quero saber se almas gêmeas existem.

O que busco são almas "gemas", pedras valiosas e rústicas, encontradas na escuridão de cavernas, e com paciência e generosidade lapidadas.