e já sinto o que ainda vem com uma intensidade inédita e imensa...
Não penso em lançar flores a iemanjá,
nem acredito em poder além do nutricional pra lentilha.
Decidi despetalar sonhos antigos sobre as ondas que trago
antes de fazer pedido aos céus.
E vi nesse oceano adormecido lembranças do que não é mais.
Sorri com lágrimas, só, por perceber
que sou um lápis suspenso depois do último ponto,
e esse só é final para o conto que terminou.
As cenas que avistei no meu mar interior
dão o tom das andanças que ainda vou rabiscar.
Por isso, colam-se no meu ar quando as desgrudo
de um álbum solitário para planejar o calendário.
Que bola grande essa de cristal dentro da gente!
É cheia de cacos remendados brilhantes, que às vezes
ofuscam ao invés de iluminar.
Vidente, vi dentro envolto em luz
cada momento de dor vivido antes.
Todos me fizeram radiante, com o peito cheio
dos olhares que me seguiram amorosos, fortes e preocupados,
escondendo o sofrer nas noites mais sombrias.
Passei o natal rodeada desses mesmos olhos,
com a garganta inflamada e madrugadas sem sono.
A dor me fez sorrir menos e, depois, culpar-me por ter adoecido
numa dessas fases raras em que se está com quem mais ama.
Mas, há suspeita de que o vírus malandro tenha me atacado por um beijo.
Então valeu a pena, assim como foi valioso penar acordada sem conseguir engolir,
enquanto meu coração se expandiu e se fez capaz de deglutir um mundo de tormentos.
Os anos novos que virão serão os melhores.
E não será sorte.
É que me descobri um monte de agoras acumulados.