Olhos com moldura acrílica primeiro e, depois, aros naturais formados pela sombra de um olhar cansado, chamados de olheiras. Com a retirada dos óculos, as feições pareciam mais livres, embora expostas à constatação do cansaço nelas retratado.
PINTA DE MENINA
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Contos
CONVENÇÃO
A vida está debaixo do tapete,
e na boca de gravatas ambulantes
que enforcam quem não as usa
e anunciam metas de desaceleração
do fim aceito,
do sofrimento
da poeira escondida pelo capacho.
A vida não quis ter pé limpos sobre sua cabeça.
E quem quis?
Antes de respirar, ela elegeu gravatas
e se escondeu pra não sujar a sala.
E se empoleirou em pirâmides humanas
cambaleantes...
E no alto de árvores castigadas,
pelo tempo acelerado por um relógio de ouro,
que espreme os pulsos de quem não o usa.
A vida encolheu,
acreditou que era menor,
primitiva, errante e desorganizada,
mas existe porque não sabe ser diferente.
A viver,
veio a ver,
que não soube ser usada e,
de pronto, foi condenada
a inalar fumaça.
Não há por que temer.
A gravata conversou com o relógio,
ajustou as turbinas e ponteiros
para matar tudo mais devagar.
A vida não sabe espreguiçar.
Ela pula de janelas e viadutos,
tira-se do mundo quando quer.
E ri de objetos antropomórficos que,
carrancudos e de ombreiras,
dão de ombros ao que é.
FAXINA
Enquanto torcia o pano,
era a alma que se retorcia.
Vassoura em punho,
pensava em se varrer com a poeira.
O sol a pino, a pia no sabão,
O piar dos pingos com espuma
eram piano a tocar choro.
E essa canção ela bem conhecia,
e cantava por dentro,
limpando um tédio escuro,
Preto como sua mão e o céu
na hora de ir embora.
Não queria alvejante
pra cor negra que causava, limpa.
Embora branqueasse roupas e piso,
pisada na autoestima.
Precisava sim da luz sem manchas
do sol de domingo.
A cozinha suja de feijão,
a cerveja gelada,
as unhas de novo pintadas,
E o esfregão do peito de Zé,
na roda de samba,
a lhe roçar, lavada.
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