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DE AGNÓSTICOS

Já não me preocupa seu tamanho,
ou as ramificações dela derivadas,
o que quero da linha da vida
é a saída de linha.

O subir e descer inconstante na medição do pulso,
à medida que solavancos de dor e prazer
estremeçam a vitalidade...
isso indica a existência de vida no aparelho
onde, emparelhados, os seres se examinam.

Algo diz que, embora haja ar nos alvéolos
e alvoreceres,
a respiração é cada vez mais fraca,
de uma falsa firmeza tranqüila e apática,
não aquela dos bebês quando dormem,
mas a dos senis dementes que, tais quais as plantas,
contentam-se, por não saber o que é ser contente,
com o simples agir das trocas gasosas.

O mundo todo ficou doente,
e se previne da sanidade.

Deixei de me medicar por um dia
como os loucos,
que guardam o remédio sob a língua,
e redescobri, degustando, tudo aquilo que arde.

Ah, o sofrimento, o grito, o desespero,
agulhadas de angústia auto-aplicadas...
Essas picadas libertadoras me fazem menos morta,
mas igualmente culpada,
ainda que, vivenciando o alívio
de não me sentir bem,
quando o sangue derramado
é não se sabe de quem.

Enfim, livre para agonizar com a falta de controle,
imune ao narcótico cortante da terapia alienante,
apodrecendo por dentro, como frutos verdadeiros
cuja perfeição estática não é de cera.

Moscas varejeiras me cercam,
rastreando o mau cheiro de água parada,
que, antes estagnada, agora rompe em cascatas.
Elas descem desestabilizando os barrancos
onde, como os outros, sobrevivo, agarrada.

Mas, aterradoramente, os soterrados ainda rendem,
vendendo jornais dentro de suas tumbas,
e os infectados por males escapam ao fim,
chorando chuvisco sobre águas já fundas.

Descobri-me alérgica à ponderação,
e ao comprimido manipulado da informação.

Todos conhecem suas tragédias,
e poucos se sujam com o pus alheio,
pondo o dedo na ferida para tratá-la.

Irremediavelmente curada da busca pela saúde,
exporia em vitrine minhas chagas,
desde que elas tivessem cor de carne viva
e não o verde da bile jorrada em palavras.

AMPULHETA

Farta dos fatos e,
fatalmente fatídica em fotos,
Vejo: o que aconteceu não se retrata,
nem se redige ou relata.

Meus passos de antes se apagaram com o vento,
que emaranhou cabelos e dissipou sentidos.
Mas, tenho ontens antigos em mim,
ocos e incrustados como ostra em rocha.

Conto histórias usando insuficientes números
porque sequer as palavras são infinitas.

Aninhada no amanhã,
quando o agora é agonia,
a manha dos homens
foge ao hoje.

As horas presentes, tão rápidas,
bastam e desbastam o topo dos mais altos planos,
e os segundos seguem e me seguem,
sendo vida e morte a todo instante.

O atual é tudo
E nada é o bastante.