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O HOMEM DA REPRESA

Repreendido desde criança,
quis ele um dia fazer represália.
E prezou os meios mais apressados
para tentar fazer de presa a maldade.

Aprisionado na realidade,
empresariou atividades
e nessa empreitada empregou métodos
que não lhe emprestaram felicidade.

Será que empreender e aprender vieram do mesmo radical?
Origem de tudo é prender...
verbo e verso, nada anormal.

Compreender o mundo é tarefa árdua,
Incompreender é com o prender tudo.
São jogos de peças humanas e palavras,
e o menino represado é homem mudo.

Mas, quis represar o próprio medo.
O medroso e mudo modo de viver
não trazia ao ser enredo,
porque enredado no só querer.

Pré-sou o amanhã,
não preso ao amanhã.
Busco realização pra alma,
não o rei e a lisa ação na palma.

Para ver as linhas da mão, teve que abri-las.
Abriu mão do ego e do punho antes fechado
para segurar sonhos e socar pesadelos.
Hoje, o preso, surpreso, é por si superado.

À margem da represa, à margem da empresa,
mudaram-se letras para tudo mudar.
Umidecida na natureza,
a muda é plantada e se faz escutar.

Palavras são larvas em lava
onde o sentido se dissolve ao mínimo olhar.
Com um olho d´água à frente, o homem da represa
olhou para dentro e não se viu presa.

Ele agora era correnteza...

Do presídio ao presente, fé e certeza.
Não é preso, é presente das circustâncias.
E segue o lago das veias em suas andanças.


ABRAÇO MONÓLOGO

Com calos na garganta, eu me calava
até falar línguas que não conheço
e conhecer as próprias falas em outras línguas.

Minhas cordas vocais, Alice ou não,
passaram a tocar nova canção.

Palavras sem som agora ecoam em mim
e fazem assim que eu me sinta parte
de um canto à parte.

Talvez menos mudo, mais mundo,
cheio de gestos e bocas que falam
para que ouça minha alma prensada.

Expansão, expressão,
realidade artística, arte realizada,
flores em rostos,
beleza simples e inspirada.

Com risos e contos da vida
descobri um dialeto.
Nele, dias e afeto
me afetam a caminhada.

Novo código de comunicação,
comum ação com regras
para a descoberta do todo desregrado.

Miro a fresta da cortina
que separa fantasia da verdade
E finjo saber o que sinto por pura vaidade.